BA 177 | PIX: tudo o que você precisa saber sobre a plataforma brasileira

Especialista em regulação, José Luiz Rodrigues, sócio da JL Rodrigues & Consultores Associados, esclarece as principais dúvidas

Lançado em novembro do ano passado, o Pix é uma solução de pagamento instantâneo criada e gerida pelo Banco Central, que oferece vários benefícios para os varejistas. Somente no primeiro trimestre deste ano foram 869,6 milhões de pagamentos realizados por essa solução, o que superou todas as operações realizadas por meio de cheque, TED ou DOC, segundo o Banco Central. Mesmo assim, há muitas dúvidas sobre a sua utilização e a segurança.

Nessa entrevista, José Luiz Rodrigues, especialista em regulação e sócio da JL Rodrigues & Consultores Associados, consultoria especializada em regulação, organização, supervisão e acesso ao Sistema Financeiro e ao Mercado de Capitais, esclarece as principais delas.

Balcão Automotivo – Quais são as principais vantagens do PIX para os varejistas?

José Luiz Rodrigues – Como o Pix é mais rápido do que os demais meios de pagamento, o dinheiro chega às empresas de forma mais rápida também. Enquanto o boleto bancário demora um dia ou dois para registrar o pagamento, por exemplo, o Pix faz isso em menos de dez segundos. Isso representa uma agilidade no dinheiro em caixa e afeta diretamente o varejo. Com o pagamento confirmado de forma mais ágil, o impacto ocorre em outras etapas do processo de compra: a gestão do estoque é mais rápida e a entrega ao consumidor também. Outro benefício que ocorre principalmente para os gestores de e-commerce é uma possível redução no índice de desistência nos pagamentos via boleto, já que o Pix tende a substituir essas operações.

BA – Podemos afirmar que este é um dos sistemas de pagamento mais modernos do mundo?

JR – Sim, absolutamente. O Pix nasceu de um olhar do Banco Central em experiências internacionais de sucesso, além do acompanhamento direto com as inovações tecnológicas. O resultado é um sistema financeiro mais rápido, prático e seguro, que impacta positivamente na gestão de negócios, na própria prestação dos serviços e no comportamento financeiro do consumidor.

BA – A Receita Federal pode usar o PIX para verificar as movimentações financeiras?

JR – Qualquer crime financeiro, seja sonegação de impostos, evasão de divisas ou corrupção terá o combate mais eficiente caso o dinheiro passe pelo Pix. De qualquer forma, a verificação por parte da Receita Federal acontece mediante quebra de sigilo ou autorização do contribuinte. O sistema é centralizado no Banco Central, que processa todas as operações e também poderá ser um denunciante ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) caso uma operação suspeita aconteça.

BA – Quais são os principais riscos com a utilização do Pix?

JR – É importante dizer que o Pix está no mesmo ambiente de segurança em que se encontram os demais meios de pagamento, como TED, DOC ou boletos. Isso significa que se trata de um meio de pagamento seguro e extremamente adequado às bases tecnológicas do Sistema Financeiro Nacional. Agora, por estar em dispositivos móveis, a falta de segurança é a respeito de casos de furtos e roubos de celulares e demais aparelhos eletrônicos. E aqui não estamos falando de segurança financeira ou tecnológica, é uma questão de segurança pública.

José Luiz Rodrigues, sócio da JL Rodrigues & Consultores Associados – Foto: Divulgação

BA – Quais dicas podemos dar para as pessoas se protegerem contra os possíveis golpes?

JR – Os cuidados com o Pix são os mesmos que as pessoas precisam ter com seus dados bancários: não compartilhar senhas e não divulgar informações pessoais. O Pix trabalha com chave, que é a única informação a ser divulgada em transações. Em casos de furtos ou roubos em que o aparelho perdido está sem senhas ou aberto nos aplicativos das instituições bancárias, é necessário que a pessoa acione essas instituições, além de efetuar os procedimentos de comunicação do crime, como o registro do boletim de ocorrência.

BA – Segundo o Banco Central, o PIX já responde por mais da metade das transferências bancárias. Em sua opinião, a tendência é que isso aumente muito mais?

JR – Totalmente. O Pix já proporcionou uma mudança imediata de comportamento do mercado e segue em crescimento. Na última semana de junho, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que mais de 73 milhões de pessoas já realizaram transações com esse novo meio de pagamento, e estamos falando de uma inovação que está no mercado há apenas 8 meses. O Pix tende a ser cada vez mais popular, principalmente conforme for ganhando mais funcionalidades, já que o objetivo do Banco Central é moldá-lo conforme as necessidades das empresas e dos consumidores.

BA – Finalizando, o PIX será obrigatório para transferências, ou o DOC e a TED ainda existirão por um bom tempo?

JR – Não, o Banco Central não trabalha com uma obrigatoriedade para o Pix. Os meios de pagamento tradicionais, como DOC ou TED, continuarão a existir, mas existe um entendimento de que o Pix poderá substituí-los, conforme a população se familiarize com seu uso. Por exemplo, ao balizar os custos das transações para patamares muito baixos com o Pix, o Banco Central está proporcionando melhores condições para que aquelas pequenas transações, típicas de prestadores de serviços autônomos, possam ser realizadas neste novo ambiente digital.

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