A transformação da mobilidade com automóveis conectados e eletrificados

No 3º Encontro da Indústria isso foi colocado como um desafio para a reposição

No último painel online do 3º Encontro da Indústria de Autopeças, realizado pelo Sindipeças, no dia 20 de junho, Elias Mufarej, diretor da entidade, conduziu o painel sobre as “Macrotendências na Reposição”. Nele, os participantes falaram sobre mobilidade, eletrificação dos veículos, conectividade, transformação digital e o modelo do mercado de reposição.

César Ferreira, diretor de Inovação e Tecnologia do Grupo Randon, comentou sobre os novos players no mercado de mobilidade. “O que está acontecendo no mundo em relação à inteligência artificial ligada à mobilidade são alguns players incomuns aparecendo, como a LG e a Intel, menos conectados à indústria automotiva, mas que começam a se destacar. São novos agentes tentando trabalhar com os dados que a indústria da mobilidade está disponibilizando e tem uma oportunidade importante para aproveitarmos isso de forma que faça os nossos negócios se perpetuarem, mas sempre focado no cliente”.

Ferreira também falou sobre a tendência de eletrificação dos veículos. “O Parlamento Europeu já disse que até 2025 serão banidos os carros a combustão na comunidade europeia. Como um País seguidor de tecnologias, principalmente automotivas, mais cedo ou mais tarde seremos impactados. O mercado de veículos elétricos e híbridos no Brasil cresceu 250% nos últimos três anos, até 2021. A base é pequena, mas vemos uma presença importante dos híbridos, carros realmente populares eletrificados tendo uma procura interessante e grandes empresas, inclusive ligadas à linha leve, buscando desenvolver soluções de transporte individual que não são mais sobre rodas. Isso é um alerta para entendermos se realmente será uma realidade e em qual escala”.

Preparação da cadeia

Delfim Calixto, vice-presidente de Aftermarket da Bosch, expôs como o setor precisa se preparar para as mudanças que virão. “Quando falamos de eletrificação, essa mudança está acontecendo, porém, ela será de maneira e velocidade diferentes, em regiões e países. No Brasil, nós temos uma matriz energética verde com o etanol e entendemos que passaremos primeiro pelo veículo híbrido. Alguns produtos deixarão de existir, mas outros não, como pneus, freios e suspensão. Nós

vamos aprender é trabalhar com outros produtos. É preciso se preparar para essa transformação, que não será da noite para o dia. Temos um caminho a seguir para preparar a cadeia e o mercado para essa mudança”.

Calixto comparou a transformação que virá com foi com a transição do veículo carburado para o injetado. “Conectividade e veículos autônomos já são uma realidade e estão vinculados na questão de segurança, o que é extremamente importante. A conectividade e a eletrônica embarcada são partes do nosso negócio. Os carros já são computadores sobre rodas e o grande desafio é preparar toda a cadeia, especialmente as oficinas mecânicas. Quem está há mais tempo no mercado lembra como foi a transição do veículo carburado para o injetado. Estamos nesse processo novamente, de começar a preparar a cadeia nesse processo”.

Padronização

Sobre a transformação digital no setor de reposição, Paulo Gomes, diretor Comercial da Reposição do Grupo Randon, disse que em relação a outros setores, como telecom e turismo, que já estão bem avançados nesse processo, o de autopeças seguirá no mesmo caminho. “Talvez numa velocidade um pouco menor, pela variedade de peças, veículos e segmentos de atuação, linhas leve, pesada e comercial. Estamos em um processo muito bom de transformação digital, mas na digitalização dos processos nem tanto, somos morosos”.

Outro ponto colocado por ele foi a falta de padronização. “Infelizmente, não conseguimos ter a padronização de peças e de veículos no Brasil. Conforme o catálogo, o mesmo veículo é chamado de forma diferente e, conforme a região, a mesma peça tem outra denominação. Temos a dificuldade de padronizar pelo tamanho do País, nossa complexidade e pela forma que conduzimos os negócios até então. Precisamos de forma geral ter desde o desenho do veículo até a comercialização de peça na reposição de forma catalogada e padronizada”.

Reparabilidade

O veículo vai se tornar um dispositivo conectado à Internet das Coisas, assim como já é com o celular e a TV. Na reparabilidade, Robinson Silva, gerente de Marketing e Novos Negócios na América Latina da Bosch, colocou alguns pontos sobre como os dados dos veículos transmitidos para as montadoras vão chegar nas oficinas independentes. “Como eu garanto o acesso a esses dados e como a oficina irá recebê-los? Ela terá que entrar em um portal ou receberá por e-mail. Ela conseguirá conectar o seu equipamento para fazer a leitura desses dados”?

A grande questão, disse ele, é o processamento desses dados, como eles estarão disponíveis e de que forma. “A gente tem um caminho bem longo para seguirmos nessa linha e não só ler os dados. A hora que a oficina precisar fazer um resert na unidade de comando do veículo, apagar um código de falha ou resertar a memória, como ela vai fazer isso de forma eficiente e segura? Tem uma série de informações e questionamentos que temos que trabalhar e organizar como isso irá funcionar, nesse ambiente do carro conectado”.

Cadeia de reposição

Questionado por Elias Mufarej se o modelo tradicional do mercado de reposição está ameaçado, Conrado Comolatti Ruivo, diretor Comercial da BR AutoParts (Grupo Comolatti), respondeu que não. “A gente tem falado bastante de digitalização e sabemos da complexidade do nosso setor. O parque de veículos está aumentando cada vez mais, tem a complexidade das peças, o aumento do número de SKUs e está cada vez mais difícil achar a peça, ainda mais no momento em que a gente vive a ruptura de produção e distribuição de autopeças”.

Com toda essa complexidade, ele acrescentou. “Eu não acredito que o nosso modelo está ameaçado, acho que o processo de digitalização é natural, como vemos em outros setores, mas o nosso ainda está muito analógico, porque o offline funciona muito bem. O que temos feito na Rede PitStop é um projeto de digitalização da rede para trazer uma melhor solução na busca de peças para as oficinas mecânicas. Vemos a evolução de Mercado Livre e de algumas frentes de digitalização, mas o nosso mercado é muito grande, ainda vai ter espaço para crescimento de e-commerce e para consolidação do modelo tradicional”.

Ruivo disse também que o setor está no começo desta jornada. “Acredito que estamos bem no começo desse modelo. Mas vai acontecer a consolidação do nosso mercado, por todos os motivos de complexidade dos veículos e o número crescente de SKUs que precisamos trabalhar. Eu entendo que tem espaço para todos os modelos, de distribuição nacional e varejos especialistas. O Brasil é muito grande, a frota de veículos é muito grande”.

Foco no consumidor

Rodrigo Carneiro, CEO do MercadoCar e presidente da Andap, contou que o setor já vem se preparando para a transformação digital. “No Seminário da Reposição Automotiva, que aconteceu no ano passado, esse foi o tema, e nós falamos dessa transformação digital muito mais no sentido do ponto de vista da mudança do mindset, do que da produção como foi tratada aqui por todos. Que bom que a indústria trabalha a transformação muito mais do ponto de vista da produção e deixa a comercialização por nossa conta, porque isso a gente faz muito bem”.

Ele também questionado até quando as informações (por parte das montadoras) serão negadas para o mercado independente. “Isso é o mesmo que negar para o consumidor final. É ele quem paga a conta no final do mês. A forma analógica de fazer a distribuição tem sido muito bem feita no Brasil, com toda a complexidade e dificuldade logística. Nós temos feito isso muito bem, tanto que nós temos uma liderança absoluta e inquestionável na manutenção da frota brasileira de veículos”.

Para finalizar, Carneiro afirmou que o papel do mercado independente da reposição tem que ser do protagonismo e não de coadjuvante. “Nesse sentido, nós estamos redesenhando nosso roadmaps, atualizando tecnologicamente os recursos de gestão. Estamos nos adaptando para as inovações e mudanças, e a necessidade, principalmente, de satisfazer de forma mais eficiente o consumidor final”.

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