Em coletiva mensal, Anfavea explana sobre o movimento atual das montadoras

A falta de semicondutores persiste, mas a produção de veículos aumentou no mês de julho. Em Brasília, a Anfavea pediu a redução do IOF para aumentar as vendas de veículos

Ontem, 04/08, a Anfavea se reuniu com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Entre os temas apresentados, a entidade defendeu a redução do IOF para impulsionar as vendas de veículos novos e também apresentou a ideia de um projeto para beneficiar os fabricantes de autopeças na cadeia global, através das montadoras do Brasil para as montadoras em outros países, o que ela chama de programa “De volta para o futuro”, e que já está sendo estruturado com a cadeia e componentes e suprimentos, conforme contou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, na coletiva de imprensa na manhã de hoje (5/8).

“Cada montadora teria o compromisso de levar seu representante, seu diretor de compras e também da área de pesquisa e desenvolvimento para ouvirem o que o Brasil tem de melhor para oferecer ao mercado externo, como já falamos de baterias e outros componentes. Nós apresentamos a ideia ao ministro Paulo Guedes e ele a achou bastante oportuna. O governo também teria que entrar com algum mecanismo indutor para o aumento das exportações”, afirmou.

O foco principal do programa é aumentar a competividade dos fabricantes de autopeças. “Não é um impacto direto para o nosso setor, não é o alvo das montadoras, mas seriam elas e a Anfavea entrando como facilitadoras, porque quanto maior for a produção no Brasil, maior competitividade nós teremos. Não é um anúncio específico para o setor, mas talvez uma parceria com os setores de autopeças e montadoras, Governo e talvez outras instituições também”.

Balanço: produção e vendas

No acumulado do ano até julho, quando comparado ao mesmo período de 2021, a produção de Autoveículos (carros, comerciais leves, caminhões e ônibus) teve uma queda de 12%, de 1.250 para 1.100 unidades. Na comparação entre junho e julho deste ano, a alta foi de 7,5% de 204 mil para 219 mil. O que foi motivo para comemorar. “É um número muito expressivo e que vem sendo comemorado pelo setor. Neste momento difícil, de maneira geral no mundo, o Brasil conseguir manter esse crescimento na produção e também de 33% quando comparado julho deste ano com julho de 2021”.

No mês de julho, a média diária de vendas foi de 8,7 mil de veículos. No começo do ano, ela estava em cerca de 6 mil unidades. “A gente vem crescendo de forma consistente, o que é um motivo para estarmos otimistas. Mas precisamos passar a barreira de 9,5 mil unidades diárias”, disse Leite.

Quanto ao licenciamento de veículos, no acumulado do ano até julho, a queda foi de 12,1% em relação ao mesmo período de 2021. Porém, no mês de julho, nota-se uma recuperação, com uma alta de 2,2% em relação ao mês anterior e de 3,75% na comparação com julho de 2021. “Esse gap de 12% sempre esteve no nosso radar e com recuperação no segundo semestre. No ano passado, nós tivemos o maior momento de crise de semicondutores e este ano, a gente percebe uma melhora e mais acentuada. Então, a curva deve se reverter para a recuperação desses 12% no segundo semestre”.

Novas tecnologias de propulsão

Vale destacar do balanço da Anfavea as vendas de veículos eletrificados, principalmente no segmento de caminhões e ônibus. Ao todo, foram 687 mil unidades no acumulado do ano até julho, ante 78 mil no mesmo período de 2021. “É movimento importante na eletrificação de ônibus e caminhões”, comentou o presidente da Anfavea.

Entre automóveis e comerciais leves, também comparando os dois períodos, foram vendidas 17,5 mil unidades em 2021 e 23,6 mil unidades neste ano. “É uma tecnologia muito importante para o setor e que tem crescido de forma considerável, não no ritmo de países europeus e norte-americanos, mas temos um crescimento que vem mantendo uma constância, apesar de não ser um volume relevante”, afirmou Leite.

Semicondutores

Nas palavras do executivo da Anfavea, o que realmente impactará no crescimento das vendas do setor é a melhora na crise de abastecimento de semicondutores, mas também tem como peso a segunda onda de redução do IPI dos veículos e talvez, a situação do mercado argentino.

“A melhora na crise do fornecimento de semicondutores é a grande expectativa. Desde o início deste ano, a gente vem apontando que no segundo semestre nós teríamos uma melhora significativa e que, em 2023, no primeiro semestre, estaríamos próximos à regularização e no segundo semestre em normalidade. Isso vem acontecendo e se comprovando nas vendas e, principalmente, na produção”.

Argentina

Em números, em julho deste ano, em relação ao mês anterior, a produção interna de veículos na Argentina teve uma queda de 9,1%, as vendas internas caíram 21% e as exportações, uma retração de 28,2%. O principal destino de exportação da Argentina é o Brasil.

“São pilares extremamente importantes, pois quando falamos da produção e da exportação da Argentina, naturalmente, impacta o mercado brasileiro. Se não temos disponibilidade de produto para o mercado brasileiro, a gente pode ter alguma luzinha amarela em relação à oferta de produtos”, analisou Leite.

Redução do IOF

Não é novidade que o crédito é fundamental para o setor nas operações de vendas de veículos financiados. Porém, o somatório dos juros altos, em cerca de 35% ao ano para os financiamentos, crédito e inadimplência, o que faz com que os bancos fiquem mais exigentes em relação à concessão de crédito, afasta o consumidor, que não tem como comprar o veículo à vista. Para minimizar este cenário, um dos pleitos do setor é a redução do IOF.

“Nós apresentamos ao ministro Paulo Guedes a importância de reduzir o IOF nas operações de crédito, nas operações de vendas no varejo. Ao adquirir um automóvel, o consumidor acaba pagando praticamente três vezes o IOF – no momento de venda da montadora para a concessionária, na venda da concessionária ao consumidor e na contratação do seguro. O custo tributário do IOF nesta operação, acumulado com a alta de juros, acaba tendo um impacto negativo na concessão do crédito”, explicou.

Em 2021, as vendas de veículos novos financiados representaram 80% do total. Neste ano, esse percentual caiu para 35%, com 65% das vendas à vista. “Na verdade, não é um aumento das vendas à vista, poderia ser se fosse uma questão positiva, mas é uma comparação em percentual. Na medida em que as vendas a prazo caem, as vendas à vista começam a ter um percentual maior”, esclareceu. Segundo ele “o que está acontecendo agora é uma necessidade de redução do IOF para aumentar as vendas e retomar o crédito aos consumidores que desejam trocar seus carros”.

O IOF é um imposto regulatório, que tem como função principal não a arrecadação, mas sim, regular o mercado. Como, por exemplo, para restringir determinadas operações, o valor do IOF é aumentado, o que pode ser feito de forma temporária.

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