No evento promovido pelo Instituto da Qualidade Automotiva foram apresentados os principais movimentos dos players da cadeia automotiva
De volta ao formato presencial, em 20/09 foi realizado em São Paulo (SP) o 8º Fórum IQA da Qualidade Automotiva, promovido pelo Instituto da Qualidade Automotiva (IQA), com o tema “Instituto é Sustentabilidade ESG e Qualidade Automotiva: Mudanças na Cadeia de Valor e Percepções da Sociedade”.
Mediado por Luiz Sérgio Alvarenga, diretor-executivo do Sindirepa Brasil e Sincopeças Brasil, no painel “Impactos ambientais e mercadológicos do comércio eletrônico no pós-vendas automotivo”, ele chamou a atenção para a venda de peças automotivas pela internet, principalmente no que tange itens de segurança, sem a informação de que a peça é certificada ou não, colocando em risco a vida de pessoas.
Para ele, há um abismo entre a indústria produzir com todos os padrões de qualidades, adotar práticas de ESG, e na ponta, peças serem vendidas sem os devidos critérios. “Nós estamos falando do 4º maior mercado de pós-venda do mundo. São quadrilhas muito bem constituídas, um instrumento que leva à venda de peças pela internet e não dá para competir desta forma. Houve a democratização da informação pela internet e o comércio eletrônico se tornou a menina dos olhos, mas tem que ter uma fiscalização, ações efetivas e recomendações. Entrou o comércio eletrônico, mas não acabou a norma e a certificação. Temos que fazer algum movimento em prol da sociedade”.
Ricardo Camargo, superintendente do IPEM, Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo, falou sobre os desafios para a fiscalização do comércio virtual, que requer novos procedimentos, organização e treinamento. “O desafio é identificar quem são os vendedores, como eles estão nas plataformas e se o produto atende às certificações de mercado. É um universo amplo de monitoramento; fabricantes, importadores, lojas virtuais e market place”.

Certificação – Hoje, são mais de 600 itens automotivos regulados, relacionados à segurança. “De 2019 a 2022, nós certificamos 29.359 componentes automotivos e 8% estavam irregulares (2.391). Parece pouco, mas para um produto irregular que pode tirar a vida de alguém, é muito”, afirmou.
Citando, como exemplo, a parceria feita com o Sindipeças, em 2018 ou 2019, uma iniciativa do sindicato para a fiscalização de lâmpadas automotivas, ele contou que de um total de 37 modelos de lâmpadas recolhidas do mercado, 22 foram reprovadas e todas tinham certificação. No caso de fiscalização no comércio eletrônico o caminho, segundo Camargo, é uma ação conjunta com as entidades do setor.
Posicionamentos – Gerente de Vendas da Elring Klinger, Perci Albergaria, comentou sobre a preocupação deles com a qualidade, seja ela na fabricação de uma peça original ou para o mercado de reposição. “Quando falamos em qualidade na nossa empresa, ela é do início ao final do processo. A peça que vai para o mercado original tem a mesma qualidade da que vai para a reposição. A nossa preocupação, além de vender peças, é oferecer qualidade”.
Diretor do Grupo DPaschoal, Osvaldo Keller, disse que há anos, pelo grupo vender peças de outros fabricantes, a preocupação é grande com a questão de segurança e honestidade. “No mercado automotivo há a necessidade técnica do que precisa comprar. O do it yourself (faça você mesmo) não é realidade e no Brasil, nós temos muitas diferenças regionais e realidades diferentes sobre o conhecimento técnico. Nós olhamos para o mercado e para a indústria, e conseguimos abastecê-la com informações do que o mercado precisa, pois não é só produzir, é não produzir desnecessariamente. Nós não estamos em nenhum market place, pois entendemos que não dá para misturar as coisas”.

Descarbonização – Mediado pelo diretor do Sindipeças, Gabor Deak, no painel “Impactos atuais e futuros da descarbonização e agenda ESG na qualidade do setor automotivo”, executivos de montadoras e de indústrias de autopeças falaram sobre as principais ações de suas companhias. Fabio Bonilha, manager do ESG TFT da Hyundai, disse que “mais do que uma sigla do momento, a gente enxerga que a ESG veio para modificar o jeito de fazer negócio, principalmente evoluir e deixar o mundo melhor para as pessoas”.
Globalmente, o caminho é para a eletrificação dos veículos, aqui no Brasil, Bonilha disse que o objetivo da Hyundai é chegar ao net zero até 2045 e que diferente de outros, o País tem algumas características, como o etanol. “Há caminhos a serem trilhados e o etanol é parte importante dele. O governo brasileiro já está vendo o ciclo total, de vida de toda cadeia”.
Priscila Rocha, executiva de Sustentabilidade da Volkswagen, comentou que eles têm um grupo oficial na empresa de descarbonização e grupos com outras empresas da corporação para tratarem de tecnologia, rotas alternativas e descarbonização dos seus fornecedores. “A jornada de sustentabilidade é um desafio, não começou agora, é um caminho sem volta e somos parte desta solução”, afirmou.
Head of Sustainability da Bosch, Alberto Abdu, contou que eles têm trabalhado muito com o Sindipeças para a criação de uma cartilha para as pequenas empresas chegarem na jornada de ESG e que na companhia, aqui no Brasil, a jornada foi dividida em quatro pilares: “eficiência energética, new clean power, gerar internamente energia limpa em nossas plantas, consumo de energia limpa até 2030 e a neutralização de carbono”. Hoje, 98% da energia consumida internamente já é limpa e o foco é a autogeração. “Começamos a fazer estudos de autogeração remota, ao invés de comprar no mercado. O foco é buscar um consórcio de autogeração de energia limpa, eólica e solar”.

Na Umicore, o diretor, Stephan Blumrich, falou que desde 2014, eles utilizam energia 100% renovável. “Aproveitamos a iluminação natural nas plantas produtivas, reuso de água de chuva e a aprovação de novos investimentos devem considerar a eficiência ambiental”. A companhia também tem políticas voltadas para todos os pilares ESG. Para o social, elas resultaram em zero exposição ocupacional, zero desigualdade e aumento do número de mulheres em cargos de gestão. “A qualidade está na governança e define todos os processos da empresa – operacionais, financeiros, administrativos e éticos”.
Regulamentações – No painel “Tendências futuras em sustentabilidade para qualidade no setor automotivo”, Flávia Spadafora, líder do segmento automotivo da KPMG, defendeu que a qualidade está no epicentro da pauta ESG. “Ela permeia todos os elos, fornecedores, montadora, concessionárias e clientes. É olhar para os canais de venda e ajudá-los para que eles coloquem o produto da melhor maneira possível para o mercado e para o cliente”.
Segundo ela, há uma janela de oportunidades quando as regulamentações de fato chegarem ao Brasil e o divisor de águas será o mercado internacional. “Ele está ditando uma série de regras que os países têm acompanhado e são obrigados a seguir. 2023 será o ano de implementação, 2024 e 2025 serão os anos mais críticos de implementação das regulamentações que virão; implementação do que será regulatório”, afirmou.