Mensuração do S, da sigla ESG, já é uma realidade no Brasil. As empresas interessadas podem receber selos e até a certificação do Inmetro em relação às práticas de inclusão social
Já existe no Brasil a primeira métrica acreditada pela Coordenação Geral de Acreditação (Cgcre) do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), para mensurar nas empresas o S, da sigla ESG, pela Escala Cidadão Olga Kos (ECOK). Por ela, as empresas podem obter o reconhecimento em quatro níveis: Potencial Inclusivo Latente (duas estrelas), Potencial Inclusivo Emergente (três estrelas), Orientação Inclusiva (quatro estrelas) e Plenamente Inclusiva (cinco estrelas).
Somente as empresas que alcançarem o nível Plenamente Inclusiva receberão o certificado com acreditação do Inmetro. A métrica possui cinco variáveis, 20 indicadores e 37 requisitos que avaliam o quanto a empresa é inclusiva e também se os seus ambientes de trabalho estão adaptados a todos os tipos de diferenças, sejam elas de gênero, idade, deficiência, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual ou qualquer outro fator de exclusão.
A certificação é voluntária, mas pode se tornar compulsória. Ela é aberta para qualquer ramo de atividade, basta ter o CNPJ e não há um número mínimo de funcionários. Nesta entrevista ao Balcão Automotivo, Suzete Schipa Suzuki, CEO da ICV BRASIL, organismo associado à Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac), conta todos os detalhes.
Balcão Automotivo – Quais são as variáveis da métrica?

Suzete Schipa Suzuki – As cinco variáveis são a Arquitetônica, que tem norma para ela, o que é mais fácil para as empresas cumprirem. Porém, ainda vemos organização que não tem, por exemplo, banheiros e refeitórios adequados para pessoas com deficiência. E apesar da NBR 15575 ser de 2013, ainda há muitas não conformidades em obras (esta norma, estabelece alguns requisitos básicos para a acessibilidade e funcionalidade das edificações em relação à acessibilidade e mobilidade).
A segunda métrica é a Atitudinal. Para ela, nós temos que medir de que forma os empresários estão comprometidos, o quanto foram inclusivos, e isso é feito por entrevistas. É a percepção do outro sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminação em relação às pessoas dentro da organização. Para que a inclusão aconteça realmente, tem que treinar as pessoas.
A terceira é a Comunicacional. Essa é mais tranquila, é a parte de comunicação interpessoal, escrita e virtual. Inclusive, se o site da empresa é interativo. A quarta métrica é a Metodológica, as metodologias que a empresa tem para a parte social, como programas de treinamento e de capacitação. A última métrica é a Programática, é a variável de Missão, Visão e Valores. As métricas foram feitas por pesquisadores, estão super bem-feitas e completas.
BA – Quais são os caminhos que as empresas precisam seguir?
SS – O primeiro deles é conhecer o manual do ECOK, disponibilizado gratuitamente pelo Instituto Olga Kos, e buscar uma certificadora acreditada pela Cgcre do Inmetro para fazer o processo. Atualmente, nós somos a única certificadora em processo de acreditação com a Coordenação Geral de Acreditação do Instituto.
BA – Nas empresas, quem são os envolvidos neste processo?
SS – O RH junto ao pessoal da qualidade. E tem que ter um grande envolvimento da alta direção. Se ela não estiver envolvida no processo como um todo, não sai nada, pois eles são os primeiros a estarem convencidos de que é bom para eles.
BA – Como é feita a avaliação nas empresas?
SS – O que eu sempre digo para as empresas que já estão neste caminho é fazer um diagnóstico com uma consultoria. Nesse diagnóstico, ela saberá em qual patamar está e a consultoria lhe apresentará um plano de ação sobre o que precisa ser feito para atingir a certificação. A empresa decide qual estrela pretende atingir e o tempo que levará para isso.
BA – Seria uma evolução?
SS – Sim. A certificação não é punitiva, ela funciona evolutivamente. Quando se fala dos diferentes níveis, você está evoluindo a empresa no processo como um todo. Ela poderá ter duas, três ou quatro estrelas, que são os selos, e a certificação com o selo do Inmetro é somente para as que são Plenamente Inclusivas.
BA – A certificação tem prazo?
SS – O certificado tem apenas um ano de validade, após esse período, existe uma nova auditoria e, se a empresa não tiver um acompanhamento do que aconteceu com as pessoas que foram incluídas, como foram os indicadores, ela não consegue manter a certificação. É um trabalho constante.
BA – Do começo ao fim do processo, qual é o tempo médio para a emissão do selo ou do certificado?
SS – O prazo varia muito de empresa para a empresa. Ela nos solicita, nós elaboramos uma proposta e, dando o aceite, nós já temos uma equipe preparada para fazer a auditoria. O tamanho da equipe depende do tamanho da empresa. Em média, estando toda a documentação certa preenchida pelo auditor, ela leva cerca de 30 dias para receber o selo ou o certificado.
BA – Em sua opinião, qual é a importância da certificação?
SS – A certificação é só um ponto inicial do processo, porém, ela é muito significativa. Porque hoje, principalmente os jovens estão buscando muito por empresas que prezam pelo meio ambiente, pelo respeito à sociedade e pela inclusão. Nós já temos as métricas para a parte Ambiental e de Governança. No ESG só faltava a métrica para a parte Social. Essa métrica vai nos ajudar muito a compor esta parte do ESG.
BA – Como tem sido a aceitação por parte das empresas?
SS – Nós fizemos um evento de lançamento na FecomercioSP, tinha muita gente do governo e muitos diretores de grandes empresas da área de sustentabilidade, entre elas, da Distribuidora Petrobras, Bradesco e do Banco do Brasil. São grupos que hoje já atendem as normas que estão vindo, e o próprio Instituto Olga Kos tem patrocinadores interessados em terem isso divulgado.
BA – E vocês estão começando um trabalho com o setor automotivo?
SS – Exatamente. Os próprios fabricantes já estão olhando para que as concessionárias comecem a ter essa visão de ESG. Estamos sendo procurados por isso. Também tem o lado do mercado que está atendendo essa área de mobilidade, com carros elétricos e com a descarbonização. A tendência do mercado automotivo é ter práticas de ESG em todos os pontos e não só nos fabricantes. Os benefícios do ESG são pontos na bolsa de valores, nos financiamentos e uma nova visão de empresas que os clientes têm.