BA 196 | Sua empresa ou você é anacrônico?

Confira quais são as características e os processos considerados obsoletos para, se necessário, fazer as mudanças e se adaptar aos dias atuais

Por Karin Fuchs

Profissionais e empresas anacrônicos são caracterizados por serem antiquados, obsoletos e ultrapassados. Nos dias de hoje, em que as mudanças são cada vez mais rápidas, ainda mais com o uso da tecnologia, quem se identifica como anacrônico pode mudar, desde que queira. Segundo Antonio Wrobleski, presidente do Conselho Administrativo da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind, profissionais e empresas anacrônicos andam de mãos juntas.

Antonio Wrobleski, presidente do Conselho Administrativo da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind

“Você jamais será um profissional obsoleto trabalhando em uma empresa de ponta. Há muitos fatores para identificá-los, mas há um fundamental, que é a falta de digitalização. Empresas que ainda trabalham em cima de planilhas Excel e têm muitas pessoas analisando muitos dados, sem as devidas conclusões, são anacrônicas. O profissional obsoleto é a mesma coisa, não interage com o mercado como um todo, não está entendendo o mercado atual e não está nem olhando para o mercado futuro. Essa é uma maneira de começar a morrer diante do seu segmento”, afirma Antonio.

Edson Teixer, sócio-diretor do Grupo IRKO, professor do IBMEC-RJ e diretor-executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) no Estado do Rio de Janeiro, diz que profissionais ultrapassados são facilmente identificáveis por serem aqueles que sempre resistem a mudanças ou novidades. “Eles são resistentes à inovação, têm dificuldade com coisas novas, querem fazer as coisas sempre do mesmo jeito. Por várias razões, isso é bastante prejudicial no mundo atual”.

Fundador e CEO da FM2S Educação e Consultoria, Virgílio Marques dos Santos, considera quatro pontos principais que podem ser identificados o anacronismo no trabalho:

1/ Falta de habilidades digitais, quando não se está familiarizado com tecnologias atualizadas e não se sabe como usá-las para melhorar suas habilidades e sua eficiência no trabalho;

2/ Mindset obsoleto, quando utilizam uma abordagem rígida e inflexível para o trabalho e não estão dispostos a mudar ou aprender novos métodos;

3/ Não conseguem se adaptar às mudanças no mercado ou no setor em que trabalham,

4/ Falta de inovação, em que não estão constantemente procurando maneiras de melhorar suas habilidades e sua empresa.

Impactos negativos

Virgílio destaca cinco impactos negativos para profissionais e empresas considerados anacrônicos. “O primeiro é a desvantagem competitiva, em que os profissionais e as empresas anacrônicos ficam para trás em relação à concorrência e podem perder oportunidades para aqueles que estão mais atualizados e capacitados. O segundo ponto é a dificuldade em atrair talentos, já que os profissionais modernos procuram empresas que ofereçam tecnologia e oportunidades de crescimento”.

Outro impacto negativo é a baixa eficiência, pois tendem a ser menos eficientes devido à sua falta de habilidades digitais e adaptabilidade. “Além disso, há uma dificuldade em se manterem relevantes, ou seja, esse perfil (especialmente no caso de empresas) corre o risco de perder sua relevância no mercado e se tornar obsoleto. Por fim, o impacto negativo de ter dificuldade para satisfazer as expectativas do cliente”, especifica Virgílio.

Para Antonio, empresas anacrônicas não têm futuro. “Os impactos negativos são custos maiores, má precificação, falta de entendimento do mercado. Portanto, não terão o desempenho que deveriam ter. São empresas e pessoas com tempo contado, limitado”. Visão similar compartilha Edson, “o mercado atual se move na onda da Quarta Revolução Industrial, a tecnológica. Assim, companhias que queiram crescer, se desenvolver e até mudar de patamar precisam trabalhar levando em consideração a inovação e as novas tecnologias. Empresas anacrônicas já não têm espaço no mundo atual e, principalmente, no futuro”.

Mudança

Para quem se identificou como anacrônico e quer mudar, a dica de Antonio é investir em educação “Fazer parte de associações relativas ao seu negócio para trocar informações com seus pares e o benchmarking. Isso eliminará o anacronismo de sua empresa, caso contrário, ela vai morrer”, explica.

Ele conta que tem visto profissionais acima de 50 anos totalmente inseridos no mercado, atualizados. “Eles não utilizam mais planilhas Excel, que é um símbolo do anacronismo. São profissionais e empresários que têm muita clareza em sua visão de como deixar a empresa pronta para os próximos cinco anos, independentemente do tamanho dela”.

Teixer orienta as empresas a olharem para dentro de casa e analisarem os seus processos internos. “Como eles funcionam? São exclusivamente manuais? Parcialmente automatizados? Olhar para isso vai ajudar a avaliar se o seu time é composto de profissionais anacrônicos ou não, já que profissionais que acreditam na inovação tendem a atuar para construir processos automatizados ou buscar soluções automatizadas”.

Edson Teixer, sócio-diretor do Grupo IRKO, professor do IBMEC-RJ e diretor-executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) no RJ

Já Virgílio deixa sete recomendações: “avalie seus processos, ouça o cliente, fique atento às tendências, acompanhe as tendências tecnológicas e de negócios, identifique como elas podem ser aplicadas ao seu negócio, invista em inovação, capacite sua equipe, trabalhe em equipe e seja aberto a mudanças. Mantenha uma postura flexível e esteja disposto a abandonar processos e ferramentas ultrapassados se for necessário; tenha um espírito aberto para mudanças”.

Processos antiquados

Com base nas respostas dos entrevistados, confira a seguir quais ferramentas e processos são considerados hoje obsoletos:

Planilhas manuais: foram substituídas por ferramentas de gerenciamento de dados, como o Google Sheets ou o Microsoft Excel;

Correspondência por fax: com a popularização do e-mail, o fax perdeu sua relevância como meio de comunicação (e inexiste nas empresas, atualmente);

– Agenda de papel: as agendas digitais, como o Google Agenda, tornaram as agendas de papel obsoletas, embora muita gente use, ainda;

– Discos rígidos externos: a nuvem e outras formas de armazenamento em nuvem substituíram os discos rígidos externos como meio de backup de dados;

Virgílio Marques dos Santos, fundador e CEO da FM2S Educação e Consultoria

– Atualmente, há ferramentas que ajudam no processo de monitoramento e gestão, que hoje não são mais controlados por meio do manuseio ou inserções manuais dos profissionais. Os processos estão cada vez mais automatizados, com a ajuda de ferramentas e aplicações que o próprio mercado disponibiliza;

– Os modelos de negócio atuais têm utilizado muito o que chamamos de ecossistema. Quando falamos de aplicações, sistemas ou ferramentas, já não existe apenas um que consiga dar solução a tudo. No dia a dia, é preciso utilizar várias aplicações e integrá-las num ecossistema,

– Exemplo disso é a indústria automotiva. A linha de montagem não é construída por uma única empresa. São várias máquinas, de diferentes fornecedores, cada uma fazendo sua parte no processo produtivo. Elas se integram, trabalham em conjunto, para produzir o que a empresa precisa.

Ativo e operante

Empresário de Curitiba (PR), André Keppe, da Keppe Autopeças, sempre foi inquieto por aprender e está longe de ser anacrônico, ao contrário. Vendedor de autopeças há 28 anos, ele assumiu uma loja há praticamente dez meses e é bastante atuante nas redes sociais. “Eu sempre fui muito criativo, nunca gostei de fazer as mesmas coisas do mesmo jeito sempre, o metódico me deixa incomodado, estou sempre buscando inovar, fazer algo diferente. Todos os dias, antes de abrir a loja, eu posto uns dois reels (formato de vídeo para ser compartilhado nas redes sociais)”, afirma.

O contato pessoal ele também nunca dispensou. “Eu falo com no mínimo 100 pessoas por dia e nesses dez meses à frente da loja, os contatos que eu tenho feito têm dado muito retorno, muitas portas estão se abrindo. Seja em qualquer ramo for, é preciso estar sempre atualizado, escutando as pessoas e eu sou muito antenado. Leio muito e estou fazendo faculdade de História, pode não ter a ver com o nosso setor, mas tudo é história e tudo é aprendizado”, enfatiza.

Ele aproveita para deixar uma dica. “É exigido do profissional de vendas do ramo automotivo muito conhecimento técnico, quem entra nesse ramo não sai mais, porque ele aprendeu o que é muito difícil de aprender, leva anos, não tem cartilha e nem faculdade. Por isso, a pessoa tem que estar aberta para mudanças, buscar se adaptar e com as ferramentas digitais, ter o cuidado de não perder a habilidade de dialogar, do olho no olho e de ligar para o cliente”.

André Keppe, da Keppe Autopeças, de Curitiba (PR)

“É exigido do profissional de vendas do ramo automotivo muito conhecimento técnico, quem entra nesse ramo não sai mais, porque ele aprendeu o que é muito difícil de aprender, leva anos, não tem cartilha e nem faculdade. Por isso, a pessoa tem que estar aberta para mudanças, buscar se adaptar e com as ferramentas digitais, ter o cuidado de não perder a habilidade de dialogar, do olho no olho e de ligar para o cliente”. André Keppe

Compartilhe