Cada vez mais, inspirar, motivar e engajar são alguns dos atributos dos líderes e gestores. Nas palavras de Cauê Oliveira, “o papel do maestro ou da maestrina é liderar e motivar as pessoas para que elas façam o seu melhor trabalho em harmonia”. Veja como isso é possível
Por Karin Fuchs
Motivar, engajar e envolver a equipe são alguns dos atributos necessários aos líderes e gestores. Hoje, o que se fala muito é na liderança transformacional, a qual os líderes trabalham com suas equipes identificando mudanças necessárias e criando um ambiente inspirador para que elas sejam postas em prática com o comprometimento de todos. Em parceria com Gustavo Penna, Cauê Oliveira é autor do livro Great Leader to Work e tem uma bagagem de mais de uma década como diretor de educação corporativa do Great Place to Work, conhecendo e investigando as Melhores Empresas para Trabalhar.
Nesta matéria, Oliveira explica como é possível se transformar em um líder transformacional e os principais erros ainda cometidos pelas lideranças. Os empresários Celso Caires Jr. e João Pelegrini contam como praticam esta liderança no dia a dia e os desafios impostos no mundo cada vez mais digital.
Um erro, diz Oliveira, é achar que a liderança é algo nato. “Eu até brinco que se fosse isso, ao invés de um treinamento para ser líder, a pessoa teria que apresentar um exame de sangue. A liderança não é nata, ela é desenvolvida ao longo da vida e como qualquer competência, ela carece do famoso CHÁ: Conhecimento, Habilidade e Atitude”.

Conhecimento é tudo o que se aprende sobre liderança, habilidade é o aprendizado na prática e atitude é querer ser líder pelas razões corretas; pela transformação. “A característica de uma liderança transformacional é a que tem o desejo de transformar a vida dos demais. Ao contrário do que muitos pensam, a liderança tem mais a ver consigo do que com os outros. Eu não consigo transformar ninguém, se eu não me transformei, eu não consigo conhecer alguém, se eu não me conheci e eu não consigo desenvolver ninguém, se eu não me desenvolvi”, afirma Oliveira.
Transformação genuína
Nas palavras de Oliveira, a transformação é um olhar para dentro de si, com foco na transformação do outro, de forma absolutamente genuína. “A gente percebe que a grande maioria dos gestores nos dias de hoje almeja posições de liderança, não pela transformação dos outros e de si mesmo, mas por uma transformação do próprio bolso. O principal objetivo acaba sendo por um melhor salário, benefícios, status e poder, ao invés do foco na transformação dos demais. E não que não seja legítimo um melhor salário, um melhor benefício, mas isso não deveria ser o principal foco”.
Um erro tradicional, comenta Oliveira, é acreditar que o certo é “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, o que acaba por ser uma liderança muito autoritária. “Outro erro muito comum é a liderança dizer que não cabe no seu dia a dia fazer a gestão. O que é justamente o que deveria estar no seu dia a dia: liderar gerir e cuidar das pessoas, e entender o que move cada um”.
Líderes tarefeiros
Denominados de líderes tarefeiros, Oliveira explica que esse tipo de liderança ainda é muito comum nas empresas. “São pessoas que tipicamente acabaram por exercer um cargo de liderança por serem muito bons tecnicamente no que faziam. Elas ocupam este cargo, mas não estão fazendo o que esse cargo exige e necessita. Eu costumo dizer que quando observamos uma orquestra em cena, a única pessoa que não está fazendo nenhum som é o maestro ou a maestrina, quem tem que trabalhar para que a música apareça são os instrumentistas. O papel do maestro ou da maestrina é liderar e motivar as pessoas para que elas façam o seu melhor trabalho em harmonia”.
Desenvolvimento
Como bem diz Oliveira, toda e qualquer competência pode ser desenvolvida. Para isso, existem vários recursos, como cursos, workshops, treinamento, mentoria e coaching. A liderança transformacional tem que ter uma comunicação transparente, criar um ambiente de desenvolvimento contínuo e ter uma visão compartilhada, sem se esquecer da questão do propósito. “É desenvolver um ambiente onde as pessoas vão trabalhar não só porque precisam ganhar dinheiro, mas que encontrem um propósito, um significado do trabalho e a liderança pode contribuir no significado do trabalho”.
Ainda mais com as novas gerações no mercado de trabalho. “Hoje, sempre e cada vez mais nas empresas é preciso ter propósito. Principalmente quando falamos das novas gerações que estão no mercado de trabalho e carecem muito de vários temas, e o principal deles é o propósito, a vontade de perceber um significado no seu redor, na sociedade, no meio ambiente e por aí vai”.

Espelho
Ele acrescenta que quando há uma liderança mais eficaz, mais transformacional e próxima, ela acaba tendo uma equipe semelhante. “Muitos autores de liderança revelam que a equipe acaba por ser um espelho do comportamento que o/a líder tem no se dia a dia. Então, quando temos uma liderança focada na transformação do outro, de fato, teremos um resultado melhor, uma menor rotatividade de colaboradores, satisfação de clientes e resultados financeiros. E tudo isso está comprovado por estudos”.
Em suas palestras e treinamentos, Oliveira conta uma história que aconteceu em 1961, quando o presidente norte-americano John Kennedy foi visitar a NASA para saber sobre o projeto Apollo. “Ele perguntou o que cada colaborador fazia e ao perceber que havia um rapaz varrendo o chão, ele fez a mesma pergunta. Ele respondeu que estava levando o homem para a Lua. É uma pessoa que está fazendo o seu trabalho e mais do que isso, ele conseguia enxergar um propósito em sua atividade, que era deixar aquele lugar limpo. Isso significa traduzir as atividades do dia a dia e conectá-las ao propósito da organização, que em sua grande maioria tem um propósito nobre que visa engajar e melhorar a sociedade a qual a gente vive”, finaliza.
Novo tempo digital
Nos dias atuais, somos constantemente bombardeados por informações e temos que ter um filtro para identificar o que realmente vale a pena nas nossas vidas e o que são sugadores do nosso tempo. Com essa visão, o diretor Executivo da Dispemec, Celso Caires Jr., tem engajado a sua equipe com uma liderança transformacional. “Todos estão sendo muito atacados com informações, há muito entretenimento banal, muitas coisas que são ladrões do nosso tempo e distrações que não agregam na nossa vida. Eu tenho trazido informações sobre isso para o nosso time, principalmente, para o engajamento no propósito, para não gerar a dispersão. É um mundo muito disperso e precisamos criar estratégias para atrair a atenção do nosso time, do nosso colaborador”, afirma.
Principalmente para a equipe de vendas. “Nós decidimos investir no treinamento sobre esse novo tempo digital, principalmente para a equipe de vendas, que é o nosso carro-chefe, o pessoal que representa a nossa empresa. Hoje o consumidor busca rapidez, eficiência, agilidade, competência, excelência e, acima de tudo, ele é muito exigente, muito ágil e muito ansioso. São nesses moldes o programa de treinamento e precisamos deixar o nosso time preparado para esta realidade”.

Engajar e motivar. Ao contrário, Jr. diz que os principais motivos para a desmotivação dos colaboradores são a não adaptação às mudanças, a desatualização e a ansiedade de conquista imediata, principalmente por parte das novas gerações. “Essa ansiedade pode trazer uma frustração e uma desmotivação”, acrescentando que ele tem acompanhado as novas gerações, de vários perfis, e que a energia deles acaba muito rápido.
“Eles querem as facilidades que o mundo digital oferece, só que dentro de uma corporação, você precisa conquistar o seu espaço, desenvolver as habilidades e isso exige tempo. Ansiar por algo que não acontece no momento desejado, não contempla a sua expectativa, e você fica desmotivado e isso é um buraco sem fundo, se você não estiver atento, se não estiver vigilante”, conclui.
Diálogo transparente
Para João Pelegrini, do Grupo Pelegrini, a liderança transformacional é um aprendizado e um aperfeiçoamento diário, como ser humano e com a equipe. “Quando existe um alinhamento com a equipe, esse líder torna-se um facilitador, as hierárquicas se tornam fáceis. Eu digo muito que é somar as nossas inteligências, ninguém vem na minha sala para receber ordens, mas para direcionarmos a estratégia que combinamos, assim, com essa convivência, se algo precisa ser mudado, fica muito mais fácil. Eu presto muita atenção nas colocações das pessoas”.
Segundo ele, um líder tem que estar muito antenado para ter um comportamento adequado, uma convivência muito salutar, muito honesta e interativa. “Um líder tem que ter um comprometimento da condução do negócio e a partir do momento em que você tem um diálogo profissional, respeitoso e verdadeiro com todas as suas diretrizes pré-determinadas entre as partes, isso torna-se muito salutar na sua condução como líder, de forma que as pessoas já chegam até você com uma solução ou com um encaminhamento de determinado assunto”.
Para finalizar, Pelegrini diz que os resultados são visíveis. “Quando você tem uma equipe com uma certa longevidade de convivência nos processos do negócio, seguindo o que foi combinado, o resultado vem. Aqui, nós temos um padrão de atendimento, que acaba criando um padrão de relacionamento, e também um padrão de indicadores, que nada mais é do que a convivência”.